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segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Por que devemos nos importar com a igreja local?

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Um jovem casal se muda para Edinburgh e pesquisa ao redor para encontrar uma igreja que se adéque às suas necessidades e atenda às suas exigências em termos de culto e de outras pessoas da sua idade. Ambos amam ao Senhor e querem servi-lo em tempo integral no exterior de alguma forma, mas a maioria das outras igrejas com as quais se envolveram não parecem tão interessadas em sua visão. Eles, na verdade, nunca foram tão envolvidos em uma igreja local, eles não veem qualquer benefício em ser um membro e sentem que, como instituição, a igreja está ultrapassada e sem conexão com o mundo real. Eles estão pensando em ir para o exterior por conta própria e não conseguem ver porque teriam de ser membros de igreja para serem capazes de fazer grandes coisas para Deus. Eles apareceram na Niddrie nas últimas duas semanas e compartilharam algumas dessas coisas com você.
Eu me pergunto que conselho nós daríamos a eles se eles viessem a nós em busca de aconselhamento
Muitas pessoas hoje veem a igreja como esse jovem casal. Eles a veem como ultrapassada e sem conexão com o mundo. Veem os sistemas e estruturas mais como obstáculos do que auxílios para o que eles sentem que Deus quer que eles façam com as suas vidas. Eles não vêem a membresia de uma igreja local como algum benefício real qualquer. Há várias atitudes dos membros de igreja: Indiferença (não se incomodam), ignorância (não sabem), indecisos (não conseguem se decidir) e independentes (nós faremos o que quisermos). Há cada vez mais desses últimos tipos – Cavaleiros Solitários Cristãos – que não se importam com o que a Bíblia ensina. Eles não querem pessoas se intrometendo, dizendo como eles devem viver suas vidas. Querem vir à igreja receber o que quiserem dela e ir embora quando estiverem cheios.
Isso deixa o pastor dos dias modernos com muitos problemas. O não menos importante dentre eles é o problema de que muitas pessoas se encontram em pecado grave ou se sentem isoladas o fazem porque não entenderam que a intenção de Deus para a igreja local é que seja central para a vida de todos os crentes.
Onde está a membresia de igreja na Bíblia?
O Fato é que não há textos específicos sobre membros de igreja nas escrituras. No entanto, há muita evidência implícita na Bíblia para apoiar o conceito de membresia de igreja.
Liderança da igreja
1Timóteo. 3.1-13 e Tito 1.5-9 estabelecem as qualificações para os líderes da igreja. Não só isso, mas Hebreus 13.17 é muito explícito quando ordena os crentes a se submeterem aos líderes. Esta estrutura só funciona quando há uma estrutura implementada. Se não há membresia, então não há ninguém para os líderes liderarem. Nossa responsabilidade de se submeter aos nossos líderes é absurda se não há um grupo anexado a eles de alguma forma.
Disciplina eclesiástica
1Coríntios 5.9ss muito claramente afirma que era para a congregação “expulsar” da sua comunhão um homem envolvido em pecado sexual. Cristo, do mesmo modo, ordenou algo semelhante em Mateus 18.15-17. A escritura faz isso para que possamos manter uma clara distinção entre o povo de Deus, a igreja e o mundo ao redor. Se não há nenhuma maneira visível e prática para determinar quem pertence à igreja e quem pertence ao mundo, então expulsar alguém da comunhão não tem significado real.
Nós vemos em Atos 2.37-47 que há um registro numérico daqueles que professaram a Cristo e foram cheios do Espírito Santo (v. 41) e uma notificação de que a igreja estava acompanhando o crescimento (v.47).
Em Atos 6.1-6, nós vemos eleições acontecendo a fim de tratar um problema e uma acusação específicos.
Em Romanos 16.1-16, nós vemos o que parece ser uma percepção de quem é um membro de igreja.
Em 1Timóteo 5.3-16, nós vemos um ensino claro sobre como lidar com as viúvas na igreja, e nos versos 9-13 nós lemos isso:
Não seja inscrita senão viúva que conte ao menos sessenta anos de idade, tenha sido esposa de um só marido, seja recomendada pelo testemunho de boas obras, tenha criado filhos, exercitado hospitalidade, lavado os pés aos santos, socorrido a atribulados, se viveu na prática zelosa de toda boa obra. Mas rejeita viúvas mais novas, porque, quando se tornam levianas contra Cristo, querem casar-se, tornando-se condenáveis por anularem o seu primeiro compromisso. Além do mais, aprendem também a viver ociosas, andando de casa em casa; e não somente ociosas, mas ainda tagarelas e intrigantes, falando o que não devem.
Nesse texto, nós vemos critérios para quem se qualificava ou não para o programa de Éfeso de assistência a viúva. A igreja local em Éfeso é organizada e eles estão elaborando um plano. Assim, parece haver evidência de uma membresia de igreja comprometida em um nível local.
O que significa ser um membro da igreja comprometido de uma congregação local?
  • Ameis uns aos outros
João 13.34-35. Essa tem que ser a marca principal de um membro de igreja comprometido. A igreja local é o único lugar onde podemos mostrar amor comprometido uns aos outros. É na igreja local que o nosso amor uns para com os outros se torna aparente ao mundo.
 • Encorajeis uns aos outros
Hebreus 10.24-25. Uma membresia de igreja fiel está associada a estimularmos uns aos outros. Isso certamente significa que estamos em uma frequência regular. Quais as outras vantagens de uma frequência regular?
 • Um pacificador
Romanos 14.19; Tiago 3.18. Isso nos descreve como membros? Como isso seria na prática?
 • Edifica os outros
Efésios 4.11-16. É por isso que os membros se reúnem. Para desenvolver uns aos outros e edificar uns aos outros. Como podemos fazer isso melhor na NCC?
 • Suporta uns aos outros
Todos os crentes são caracterizados pela longanimidade e paciência, frequentemente em face de decepções, frustrações, perdas, ataques, difamações e ofensas (Mateus 18.21-22; Romanos 15.1). Ao levarmos as cargas uns dos outros, nós cumprimos a lei de Cristo (Gálatas. 6.2). Como podemos fazer isso melhor na NCC de forma prática?
 • Apoia a obra do ministério
Romanos 12.6-8. Todos os nossos esforços e talentos deveriam ser empregados, à medida que procuramos servir, dentro da nossa igreja local. Há algum ministério da igreja que poderíamos apoiar melhor?
O problema para muitos de nós é que não damos valor à igreja local. Não damos valor à comunhão. Escute esta citação:

“É pela graça de Deus que uma congregação é autorizada a se reunir visivelmente neste mundo para compartilhar a palavra e o sacramento de Deus. Nem todos os cristãos recebem essa benção. Os aprisionados, doentes, os solitários dispersos, os pregadores do evangelho em terras pagãs estão sozinhos. Eles sabem que a comunhão visível é uma benção. Portanto, permita àquele que até agora tem tido o privilégio de viver em vida comum cristã com outros cristãos, louvar a graça de Deus do fundo do seu coração. Permita-o agradecer a Deus de joelhos e declarar: é graça, nada mais que graça sermos autorizados a viver em comunidade com irmãos cristãos.” (Boenhoffer)

Retirado de: http://voltemosaoevangelho.com/blog/2016/11/por-que-devemos-nos-importar-com-igreja-local/

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O que eu perco quando perco o culto?



image from googleVocê pode imaginar a sua vida sem culto? Você consegue imaginar a sua vida sem se reunir regularmente com o povo de Deus, para adorá-lo em conjunto? O culto corporativo é um dos grandes privilégios da vida cristã. E talvez ele seja um daqueles privilégios que, ao longo do tempo, tomemos como certo. Quando eu paro para pensar a respeito, não consigo imaginar a minha vida sem culto. Eu nem mesmo desejo pensar nisso. Mas eu acho que vale a pena considerar: O que eu perco quando eu perco o culto?

Vivemos numa cultura consumista onde temos a tendência de avaliar a vida através de meios muito egoístas. Fazemos isso com o culto. “Hoje o sermão não falou comigo. Eu simplesmente não consegui apreciar as canções que cantamos nesta manhã. A leitura da Escritura foi demasiado longa”. Quando falamos dessa maneira podemos estar dando provas de que estamos indo à igreja como consumidores, como pessoas que desejam ser servidas em vez de servir.

No entanto, o ponto primário e o propósito de cultuar a Deus é a sua glória, não a satisfação das nossas necessidades sentidas. Nós adoramos a Deus, a fim de glorificar a Deus. Deus é glorificado no nosso culto. Ele é honrado. Ele é magnificado à vista daqueles que se juntam a nós.

Dessa forma, o culto rompe completamente com a corrente do consumismo e exige que eu cultue por amor da sua glória. Tenho ouvido dizer que o culto “é a arte de perder o ego na adoração de outro”. E é exatamente este o caso. Eu esqueço de tudo sobre mim e dou toda honra e glória a Ele.

O que eu perco sem o culto? Eu perco a oportunidade de crescer através de ouvir um sermão e de experimentar alegria por meio do cântico de grandes hinos. Eu perco a oportunidade de me unir a outros cristãos em oração e para recitar grandes credos com eles. Mas, mais que isso, eu perco a oportunidade de glorificar a Deus. Se eu parar de cultuar, estarei negligenciando um meio através do qual eu posso glorificá-lo.

Você vê? O culto não é sobre você ou sobre mim. O culto é sobre Deus. E, realmente, isso muda tudo.

Quando vejo o culto como algo que, em última análise, existe para o meu bem e para a minha satisfação, fica fácil tirar um dia de folga e pensar que a minha presença não faz nenhuma diferença. Mas quando eu venho para glorificar a Deus, eu entendo que ninguém mais pode tomar o meu lugar. Deus espera o levantar das minhas mãos, o erguer do meu coração e o levantar da minha voz a Ele.

Quando vejo o culto como algo que é todo sobre mim, fica fácil pular de igreja em igreja e estar sempre à procura de algo que se ajuste melhor a mim. Mas quando eu vejo a igreja como algo que é verdadeiramente sobre Deus, me pego procurando por uma igreja mais pura e melhor em adorar do modo exato como a Bíblia ordena – Eu procuro por uma igreja através da qual eu possa glorificá-lo cada vez mais.

Sem dúvida, o culto é um privilégio. Mas também é uma exigência, uma responsabilidade. E a maior responsabilidade, bem como o maior privilégio no culto, é trazer glória a Deus.

***
Autor: Tim Challies 
Fonte: What Would I Lose if I Lost Worship?

Tradução: Rev. Alan Renê Alexandrino Lima
Via: Bereianos

sábado, 28 de maio de 2016

A Conversão



De Gênesis a Apocalipse, as Escrituras são claras em dizer que a conversão é absolutamente necessária para indivíduos experimentarem a salvação e conhecerem a Deus. A menos que nos voltemos do pecado e nos voltemos para Deus, a menos que saibamos experiencialmente o que a Bíblia descreve como uma circuncisão espiritual e sobrenatural do coração (Deuteronômio 30.6; Romanos 2.25-29), não conheceremos a Deus de modo salvífico e iremos permanecer sob seu julgamento e ira (Efésios 2.1-3).
Como Tom Schreiner demonstrou em seus dois artigos (A Conversão no Antigo e Novo Testamento), a necessidade da conversão é ensinada através das Escrituras. Pode não ser o tema central das Escrituras, mas é certamente fundacional à completa história de redenção, especialmente em termos de como a redenção é aplicada ao povo de Deus. À parte da conversão, não podemos conhecer a Deus de forma salvífica. Não podemos experimentar o perdão dos pecados. Não podemos entrar no reino de Deus e no seu reinado salvífico.
Mas, ainda pode ser perguntado: Por que a conversão é necessária?
Entendimento popular x entendimento bíblico
Antes de respondermos essa questão, vale a pena esclarecer que não estamos falando sobre “conversão” no senso popular da palavra, mas no sentido bíblico. Qual a diferença?
Se você fizer uma pesquisa sobre o tema “conversão espiritual”, os resultados predominantes serão algo do tipo: conversão é a “adoção de uma nova religião” ou a “internalização de um novo sistema de crenças”. Essas definições enxergam “conversão” como uma mudança no pensamento de alguém ou de sua perspectiva que, na maioria das vezes, deixa a pessoa fundamentalmente a mesma. Isso é uma conversão não-cristã.
Em vez disso, a conversão cristã depende da obra soberana e sobrenatural do Deus triuno na vida das pessoas. Na conversão, Deus traz pessoas da morte espiritual para vida. Isso capacita-os a abominar o que uma vez amaram – seu pecado e rebelião contra Deus – e a se voltarem para Cristo e confiarem nele.
Três verdades que embasam a necessidade da conversão
Por que esse entendimento da conversão é absolutamente necessário? Três verdades fundacionais sublinham o ensino bíblico sobre conversão e nos ajudam a ver porque a conversão é tão importante nas Escrituras, na teologia e na proclamação do evangelho.
Permitam-me também destacar que essas três verdades são completamente inter-relacionadas. Uma pessoa não pode entender corretamente o que a Bíblia ensina sobre conversão à parte de apreender corretamente essas outras verdades, que é simplesmente um lembrete que nossas crenças teológicas são mutuamente dependentes uma da outra. Ter uma área da nossa teologia depreciada afetará grandemente as outras e isso é certamente verdadeiro em nosso entendimento sobre conversão.
O problema humano
A primeira verdade fundacional que firma e faz sentido ao ensino bíblico sobre conversão é a visão bíblica do problema humano. Mesmo que os seres humanos sejam criados como portadores da imagem de Deus e assim possuam incrível valor e significado, nós nos rebelamos em Adão contra nosso Criador e assim nos tornamos pecadores que estão sujeitos à ira de Deus (Gênesis 3; Romanos 5:12-21).
Quando a Bíblia fala de pecado e de humanos como pecadores, não vê isso como um problema secundário. Não é algo que pode ser remediado por autoajuda, mais educação ou mesmo resoluções pessoais de se tornar uma pessoa melhor. Tais soluções perenemente presentes subestimam muito a natureza do problema humano que as Escrituras descrevem poderosa e graficamente.
Visto biblicamente, o pecado não é somente um problema universal que nenhuma pessoa pode escapar devido nossa solidariedade em Adão como nosso representante do pacto (Romanos 3.9-12, 23; 5.12-21; 1Coríntios 15.22). Em Adão e por nossas próprias escolhas, tornamo-nos rebeldes morais contra Deus, nascidos nesse mundo de criaturas caídas. Essa é uma condição que não podemos mudar por nossa própria iniciativa e ação. E é uma condição que, tristemente, não queremos mudar, à parte da graça soberana de Deus. Em nossa situação de queda, nós não somente nos deleitamos em nosso pecado e de bom grado permanecemos em oposição ao justo reinado de Deus sobre nós, mas essa mesma disposição é evidência que estamos inaptos de nos salvar e nos mudarmos (Romanos 8.7). Como resultado, permanecemos sob o julgamento e ira de Deus (Romanos 8.1; Efésios 2.1-3) quer tomemos conhecimento ou não. Em nosso pecado, nosso estado diante do juiz do universo é de condenação e culpa (Ezequiel 18.20; Romanos 5.12, 15-19; 8.1). As Escrituras descrevem esse estado como morte, tanto em nível espiritual como, em última instância, físico (Gênesis 2.16-17; Efésios 2.1; Romanos 6.23).
Salvação, a remediação bíblica para esse problema, reverte essa situação terrível. E o ponto decisivo nessa reviravolta é a conversão.
O que precisamos é primeiramente de um salvador que possa pagar por nosso pecado diante de Deus, satisfazer os justos requerimentos de Deus e o julgamento dele contra nós. Nosso Senhor Jesus Cristo, o Deus-Filho encarnado, faz justamente isso por nós em sua obra da cruz. Ele satisfaz as demandas do próprio Deus: nosso pecado é pago totalmente (Romanos 3.21-26; Gálatas 3.13-14; Colossenses 2.13-15; Hebreus 2.5-18).
Em adição, não precisamos apenas que nosso pecado seja pago, precisamos também ser trazidos da morte espiritual para vida, que resulta numa transformação de nossa natureza por inteiro (Romanos 6.1-23; Efésios 1.18-23; 2.4-10). Precisamos que o Deus triuno nos chame da morte para vida e, pela agência do Espírito de Deus, dê-nos o novo nascimento (Efésios 1.3-14; João 3.1-8 [1] ). Precisamos de uma ressurreição dos mortos paralela a ressurreição do nosso representante da aliança para que sejamos capacitados a nos voltar do pecado de bom grado, para pôr de lado nossa oposição a Deus e seu reinado, como também para responder em arrependimento e fé ao evangelho (João 3.5; 6.44; 1 Coríntios 2.14).
Resumindo, conversão é necessária porque é parte da solução à séria natureza do problema humano tal qual é descrito pelas Escrituras.
A doutrina de Deus
A segunda verdade fundacional que firma e faz sentido ao ensino bíblico sobre a necessidade de conversão é o ensino bíblico acerca da natureza e caráter de Deus.
Como dito acima, essas duas verdades se explicam mutuamente. O problema humano é o que é por causa do que o Deus da Bíblia é. Nosso problema pode somente ser visto em suas cores verdadeiras à luz do caráter pessoal, justo e santo próprio de Deus.
Conversão é necessária porque como pecadores e criaturas rebeldes não podemos habitar na santa presença de Deus. O pecado não somente transgride o caráter de Deus, que é a lei moral do universo, mas ele também nos separa da presença pactual de Deus (Gênesis 3.21-24; Efésios 2.11-18; Hebreus 9). Nós, que fomos criados para conhecer a Deus e viver diante dele como vice-regentes, governando como pequenos reis e rainhas sobre a criação para glória de Deus, agora permanecemos sob a ira e condenação de Deus.
Portanto, sem o caráter santo de Deus sendo satisfeito na sua própria provisão sacrificial dele mesmo em seu Filho, não podemos conhecer a Deus salvificamente (Romanos 6; Efésios 4.20-24; Colossenses 3.1-14). Além disso, não é suficiente uma transação legal acontecer, importante como essa é no veredito de nossa justificação diante de Deus. Salvação também envolve a remoção interna do pecado e a transformação de nossa inteira natureza caída. Isso começa quando somos unidos a Cristo pela obra de regeneração do Espírito, que nos capacita de bom grado a nos voltarmos do pecado e descansarmos na obra consumada de Cristo nosso Senhor.
Em outras palavras, conversão é absolutamente necessária porque Deus demanda que suas criaturas sejam santas como ele é santo. Portanto, para que habitemos diante dele, devemos ser vestidos com a justiça de Cristo, transformados pelo poder do Espírito e feitos novas criações em Cristo Jesus (2Coríntios 5.17-21). Não há forma de portadores da imagem de Deus serem trazidos de volta ao proposito da sua criação e desfrutarem de todos os benefícios da nova criação sem terem seus pecados pagos completamente, sem serem nascidos novamente pelo Espírito e sem estarem unidos a Cristo pela fé.
Se falharmos em compreender alguma coisa da resplandecente santidade de Deus, sua perfeita justiça e sua exigência que suas criaturas ajam como filhos obedientes e portadores da sua imagem, nunca iremos compreender porque conversão é tão importante nas Escrituras.
Em adição, se não compreenderemos que nossa conversão somente acontece devido a iniciativa soberana do Deus triuno da graça, então nunca apreciaremos a profundidade e a largura do amor de Deus por nós, seu povo.
Conversão envolve arrependimento e fé – nosso eu holístico se voltando para Deus
A terceira verdade fundacional que nos ajuda a entender o ensino bíblico sobre conversão é que ela afeta a pessoa inteira e afeta a pessoa como um todo. Isto é, nas Escrituras, conversão envolve tanto se voltar do pecado (arrependimento) e se voltar para Deus (fé). Ambos são necessários para conversão, e assim arrependimento e fé são vistos corretamente como dois lados da mesma moeda.
Em outras palavras, conversão bíblica nunca é meramente uma mudança de perspectiva intelectual que não resulta em uma mudança na vida do indivíduo. Infelizmente, em muitas de nossas igrejas, encontramos pessoas que professam ter sido convertidas, mas que exibem meramente um assentimento intelectual do evangelho à parte de qualquer evidência de mudança real em suas vidas.
As Escrituras claramente consideram esse tipo de mero assentimento mental como falsa conversão (Mateus 7.1-23). Deus exige que a pessoa por inteiro lhe responda como suas criaturas do pacto: nosso pecado é uma rebelião da pessoa por inteiro contra Deus, e a salvação cristã é uma transformação da pessoa por inteiro, literalmente uma nova criação. Conversão envolve se voltar dopecado e se voltar para Deus. O que envolve a pessoa inteira – seu intelecto, vontade e emoções (Atos 2.37-38; 2 Coríntios 7.10; Hebreus 6.1).
Não é suficiente tirar nosso chapéu para Jesus
Conversão não é opcional. É absolutamente necessária. Não podemos entender salvação e o evangelho à parte de uma visão robusta dela.
O cristianismo nominal, que se prolifera rapidamente em nossas igrejas, não é o cristianismo bíblico. Não é suficiente tirar nosso chapéu para Jesus. Devemos experimentar a obra graciosa e soberana de Deus em nossas vidas, dando-nos nova vida e nos habilitando, por meio da obra do Espírito de Deus, a nos arrependermos e cremos no evangelho.
Nossos entendimentos defeituosos da conversão são geralmente por causa da nossa teologia defeituosa. O remédio para essa situação é retornar às Escrituras de joelhos, pedindo que nosso grande Deus possa reviver novamente sua igreja para que na proclamação do evangelho, homens e mulheres, garotos e garotas, possam se arrepender dos seus pecados e crerem em Cristo Jesus nosso Senhor.
Escrito por Stephen J. Wellum e disponível em http://ministeriofiel.com/artigos/detalhes/909/Conversao_envolve_todo_nosso_ser_se_voltando_para_Deus

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

O Coração do Evangelho

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Como um Juiz absolutamente justo e reto pode de alguma forma justificar 

(declarar justo) um criminoso absolutamente culpado e condenado? Como qualquer ser humano pode escapar da condenação do inferno? O próprio Deus nos diz que aquele “que justifica o perverso e o que condena o justo abomináveis são para o senhor, tanto um como o outro”.[1] Suponha que um pai chegue em casa e encontre sua família assassinada. Depois de uma perseguição agonizante, ele consegue capturar o assassino. Quando o criminoso finalmente se apresenta diante do juiz, ele é inquestionavelmente considerado culpado pelo crime. Mas quando chega a hora da sentença, o juiz faz a seguinte declaração: “Este homem cometeu um crime terrível, mas eu sou um juiz profundamente amoroso e escolho declará-lo inocente. Na verdade, eu o declaro justo diante da lei”! Tal juiz seria corretamente considerado um criminoso tão grande quanto o assassino! Ele “justificou o perverso” e “é abominável para o senhor”.
Mas se isso pode ser considerado verdadeiro mesmo à luz da justiça humana, quanto mais verdadeiro não é quando tratamos da justiça de Deus? Como os filhos perversos e culpados de Adão podem algum dia ter a esperança de se encontrarem diante de Deus, o justo Juiz do universo? Como Deus poderia de alguma forma “justificar o ímpio” sem ele próprio se tornar abominável? “O que disser ao perverso: Tu és justo; pelo povo será maldito e detestado pelas nações.”[2] Como Deus pode dizer a pecadores como nós, “Tu és justo”, sem violar o seu próprio caráter? Como Deus pode de alguma forma salvar-nos dele próprio e de sua própria retidão e justiça?

Imputação

Só existe uma única resposta para esse dilema. Alguém precisa pagar pelos pecados dos pecadores. A justiça precisa ser satisfeita. Ou ela será satisfeita pelos sofrimentos do próprio pecador eternamente no inferno, ou ela terá que ser satisfeita por alguma outra pessoa no lugar do pecador.
Maravilha das maravilhas! Esse “Alguém” veio! O Senhor Jesus Cristo “carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados”.[3] “Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados.”[4]
Como essa grande transação acontece? Para compreendê-la, precisamos considerar a pequena palavra “imputar”. Ela também é traduzida como “reconhecer”, “contar”, “considerar” e “imputar”. Podemos começar a entender o que ela significa ao atentar para uma passagem da carta de Paulo a Filemon a respeito do retorno de seu escravo Onésimo: “Se, portanto, me consideras companheiro, recebe-o, como se fosse a mim mesmo. E, se algum dano te fez ou se te deve alguma coisa, lança tudo em minha conta”.[5]Aqui, Paulo instrui Filemon a “lançar em sua conta” [literalmente, “imputar”] qualquer débito que Onésimo pudesse estar devendo a Filemon. Essa não era realmente uma dívida de Paulo, mas Paulo, por sua própria vontade, tomou para si aquele débito, e ele foi lançado em sua conta!
Agora, essa mesma palavra e suas variações são usadas para se referir a pecado. Por exemplo, a Bíblia diz que “o pecado não é imputado (“lançado em nossa conta”), não havendo lei”.[6] Novamente, em Romanos 4, Paulo diz: “Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio, a sua fé lhe é atribuída como justiça. E é assim também que Davi declara ser bem-aventurado o homem a quem Deus atribui (“imputa”) justiça, independentemente de obras: Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos; bem-aventurado o homem a quem o Senhor jamais imputará pecado”.[7] Que transação gloriosa! Nossos pecados não são imputados a nós, porque foram imputados aCristo, e, aceitando-os como se fossem seu próprio débito, ele os pagou completamente!

O Coração do Evangelho

Essas realidades estão no próprio coração do evangelho. Elas são expostas pelo apóstolo Paulo em Romanos 3.21-26, uma passagem um tanto complexa que se torna clara à medida que compreendemos o significado da imputação discutida acima:
“Mas agora, sem lei, se manifestou a justiça de Deus testemunhada pela lei e pelos profetas; justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo, para todos [e sobre todos] os que creem; porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus propôs, no seu sangue, como propiciação, mediante a fé, para manifestar a sua justiça, por ter Deus, na sua tolerância, deixado impunes os pecados anteriormente cometidos;  tendo em vista a manifestação da sua justiça no tempo presente, para ele mesmo ser justo e o justificador daquele que tem fé em Jesus.”
Aqui, Paulo declara que Cristo morreu para pagar o nosso débito de pecado a fim de que Deus pudesse “justificar” pecadores e ao mesmo tempo permanecer “justo”. Ao longo do Antigo Testamento, os pecados foram meramente “deixados impunes”, o pagamento de sua culpa sendo postergado ano após ano, até que viesse o Cordeiro cuja morte os levaria verdadeiramente embora.[8] Durante todo esse tempo, parece que Deus estava sendo injusto, visto que ele justificou homens (como Abraão e Davi) sem que a justiça fosse realmente satisfeita. Portanto, era necessário que Cristo morresse “publicamente”, manifestando abertamente a justiça de Deus para que todos a vissem, satisfazendo-a completamente na cruz pelos pecados cometidos. Nesse sentido, Cristo morreu não somente para justificar homens, mas para justificar Deus! Sua morte na cruz vindicou e manifestou a justiça absoluta de Deus ao justificar seu povo. Como uma “propiciação” (i.e., um sacrifício que remove a ira) pelos nossos pecados, Cristo tira de sobre nós a ira judicial de Deus. Somos “justificados gratuitamente” (a justificação é absolutamente de graça para nós), “mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (a justificação custou muito caro para Deus). Somos justificados ao receber a “graça para a justificação”,[9] “justiça de Deus mediante a fé em Jesus Cristo”.[10]
Você ainda está carregando o fardo de sua culpa e seus pecados? Você ainda está sob a ira de Deus? “Eis o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo!”[11] “Haverá uma fonte para remover pecado e impureza”.[12] “O sangue de Jesus, seu Filho, nos purifica de todo o pecado”.[13] Não importa quão terríveis sejam os seus pecados, eles não são nada comparados ao valor infinito do sangue de Cristo![14] “Onde abundou o pecado, superabundou a graça”.[15] Venha a ele! Ele o convida e também ordena que venha; você não precisa temer estar sendo presunçoso ao vir: “Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida”.[16] Venha a ele! Tome a água da vida! Lance seus pecados sobre ele e confie nele como quem levará seus pecados. “Crê no Senhor Jesus e serás salvo”.[17]

[1] Provérbios 17.15
[2] Provérbios 24.24
[3] 1 Pedro 2.24
[4] Isaías 53.4-5
[5] Filemon 17-18
[6] Romanos 5.13
[7] Romanos 4.5-8
[8] Hebreus 9.15
[9] Romanos 5.17
[10] Romanos 3.22
[11] João 1.29
[12] Zacarias 13.1
[13] 1 João 1.7
[14] 1 Pedro 1.18-19; Atos 20.28
[15] Romanos 5.20
[16] Apocalipse 22.17; Mateus 11.28
[17] Atos 16.31

Esse artigo é um trecho do livro “Justificação e Regeneração”, publicado pela Editora Fiel. Disponível em: http://voltemosaoevangelho.com/blog/2016/02/o-coracao-do-evangelho/

sábado, 30 de janeiro de 2016

A realidade bíblica sobre o inferno





A realidade bíblica sobre o infernoMarcos 9.43b,44,45b,46,47b,48

Introdução
O debate sobre o inferno tem sido reacendido. Por diversas vezes, pregadores conhecidos e desconhecidos têm procurado dar suas visões acerca do inferno. Mais recentemente, um famoso preletor para jovens negou que o inferno seja real e/ou eterno. Alguns de seus livros têm sido traduzidos para nossa língua, bem como a sua série Nooma. Estou falando do Rob Bell, que recentemente causou estranheza 

no mundo cristão ao afirmar: um Deus amoroso jamais sentenciaria almas humanas para o sofrimento eterno. Será?

Parece que tem sido moda1  (ou ressurgimento de antigas heresias) negar a existência e eternidade do inferno. Tudo em nome de anunciar uma mensagem que transija com o “bem-estar” e, principalmente, com a filosofia pluralista e a pseudotolerância de nosso século. A fim de transmitir a imagem de “pastores e pregadores” contemporâneos, tolerantes e “bona fide”, esses tais reformulam o amor de Deus, ensinando que “um Deus de amor não lançará ninguém no inferno”. Será contraditório um Deus de Amor condenar homens ao inferno? Se Deus realmente é amor, então como ele pode mandar alguém para o inferno?

No texto que lemos encontramos a seriedade com que Jesus alertou sobre esse terrível lugar. Jesus não disse que era um estado espírito, como querem alguns “pregadores modernos e adocicados”. Na verdade, nesta exposição temática, veremos o que a Escritura ensina sobre esse lugar terrível e algumas objeções levantadas por aqueles que negam o caráter eterno da punição. Rogamos a Deus que nos conceda cuidado, compaixão e, sobretudo, fidelidade ao pisar nesse terreno.

OPÇÕES OFERECIDAS PARA O DESTINO FINAL – SÃO BÍBLICAS?
Não parece ser uma boa opção alguém passar a eternidade em sofrimento. É isto que se deduz da palavra “inferno” e das expressões usadas por Jesus: tormento e sofrimento. No entanto, têm-se oferecido outras opções sobre o destino eterno dos homens. Quero avaliá-las nesse momento, pois elas respondem à pergunta: o que acontece conosco quando morremos? A seguir nos voltaremos para o texto bíblico em exame. São elas:
I.    Reencarnação – tem sido a visão mais popular. Os que ensinam essa concepção nos dizem que temos múltiplas e sucessivas vidas. No túmulo de Alan Kardec tem o seguinte lema: “Nascer, morrer, renascer e progredir sempre; está é a lei”. A Escritura não ensina reencarnação. Antes, ela diz: “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo” (Hb 9. 27).

II.    Materialista/Naturalista – este grupo, embora menor, tem forte expressão. Eles nos dizem que não temos alma, que somos apenas corpo e que, ao morrer, deixamos de existir.  Tomando as Escrituras como autoritativa, encontramos o Senhor Jesus dizendo: “E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo” (Mt 10.28).

III.    Universalistas – alguns contemporâneos têm adotado essa visão. Entre eles o próprio Rob Bell. É também a teoria exposta no livro A Cabana (William P. Young, Ed. Sextante, 2008). Eles ensinam que no final todos que estão no inferno serão salvos e o inferno esvaziado. Por pensarem que todas as religiões conduzem a Deus, entendem então que todas as pessoas serão salvas. Porém, não é isso que Jesus Cristo ensinou. Na verdade, a própria morte de Jesus é sinal de que apenas alguns serão salvos (Cf. Mt 202.8; Mc 10.45). Também disse Isaias ecoado em Paulo: “Também Isaías clama acerca de Israel: Ainda que o número dos filhos de Israel seja como a areia do mar, o remanescente é que será salvo” (Rm 9.27). 

IV.    Purgatório – esta é a doutrina esposada pelo Catolicismo Romano. De fato, a não ser no Livro Apócrifo de 2 Macabeus 12.46, as Escrituras não reconhecem tal doutrina. O que ela ensina? Ouçamos o que diz o Catecismo Católico: “Os que morrem na graça e na amizade de Deus, mas não estão completamente purificados, embora tenham garantida a sua salvação eterna, passam, após a sua morte, por uma purificação, a fim de obterem a santidade necessária para entrarem na alegria do céu”(C.C, 1030 – 1032).

v.    Aniquilacionismo – é a crença de que os incrédulos não irão sofrer eternamente no inferno, mas que, após algum tempo, serão extintos e deixarão de existir. Embora homens de Deus como John Stott tenham crido nesta doutrina, à luz das Escrituras e da História da Igreja como registrada nas Confissões, a posição cristã tem sido de que os ímpios sofrerão eternamente no inferno. Ouça o que diz a Escritura: “E o diabo, que os enganava, foi lançado no lago de fogo e enxofre, onde está a besta e o falso profeta; e de dia e de noite serão atormentados para todo o sempre.”(Ap 20.10; Cf. 14. 9 -11; 19.20). 
O ENSINO BÍBLICO SOBRE O INFERNO
Por três vezes no texto, Jesus adverte aos discípulos: “melhor é para ti entrares na vida-reino de Deus – aleijado, coxo e cego – do que ires para o inferno” (v. 43, 45, 47). A cada advertência Jesus também acrescenta algo sobre o inferno: “para o fogo que nunca se apaga [ARA- inextinguível] (2x)” seguida de outro qualificativo: “onde o seu bicho não morre” 2.

Que descrição terrível vindo da doce voz do Senhor!

Precisamos lembrar que os discípulos não se impressionaram com a descrição. Por quê? Embora fosse uma nova revelação no ministério de Jesus, a descrição já era conhecida pelos discípulos na leitura dos Profetas: “e sairão [os eleitos], e verão os cadáveres dos homens que prevaricaram contra mim; porque oseu verme nunca morrerá, nem o seu fogo nunca se apagará; e serão um horror a toda a carne” (Is 66. 24). Diante das palavras de Jesus e, agora, considerando o todo da revelação bíblica, vejamos qual é o ensino bíblico sobre esse lugar.

Primeiro, o inferno é um lugar real – Jesus diz que as pessoas “vão para o inferno”. O verbo (eiseltein) usado implica em “deslocar-se” ou “separar-se”. No nosso texto usa-se com a preposição (eis) e o substantivo ten geennan. Essa construção gramatical dá a noção espacial . Desse modo, o que Jesus quer dizer é que alguém é “separado para dentro da Geena”. Mas, o que era a Geena?
A palavra traduzida por “inferno” (geena) era uma referência a um lugar chamado de “Vale de Hinom” (Cf. Js 15.  8; 16.18; 2 Rs 23. 10; 2 Cr 33.6). Ficava ao sul de Jerusalém e lá, os antigos judeus apóstatas, sacrificaram seus filhos ao deus pagão Moloque (Cf. 2 Cr 16.3; 21.6; Jr 7. 31; 19.5,6; 32.35). Foi o Rei Josias quem pôs fim a essa prática e transformou o lugar num lixão da cidade. Ali eram jogadas as carcaças de animais que eram queimadas dia e noite. Havia um fogo por baixo do monturo e, por não faltar carniças, nunca deixava de haver vermes.
Veio a ser, portanto, o designativo do lugar de juízo de Deus e se passaria a chamar “Vale da Matança” (Cf. Jr 7. 32;
19. 6, 7). Ao dizer, então, que os ímpios “vão para a Geena [inferno]” têm-se uma ideia acerca do horrível lugar. Decerto que não havia outra figura para demonstrar quão terrível e miserável é o inferno. Não havia descrição mais chocante para descrever sofrimento e tormento. Então, afirmamos à luz das Escrituras, o inferno é um lugar real.

Segundo, é um lugar de consciência – ora, ao dizer que “é melhor isso do que aquilo”, Jesus Cristo revela que aqueles que vão para o inferno estão conscientes de suas escolhas. Poderiam ter escolhido “ficar sem uma mão, um pé ou um olho” e entrar no reino de Deus, mas preferiram perder a sua vida. Semelhante imagem apresenta no v. 42 – “melhor lhe fora que lhe pusessem ao pescoço uma pedra de moinho e que fosse lançado no mar” – em que aquele que fosse motivo de tropeço para um crente mais pequenino estava ciente do tropeço causado. Também o causador de tropeço estava consciente de sua pedra no pescoço e do lugar onde estava se lançando. De igual modo, aqueles que vão para o inferno saberão onde estão e por que estão ali.

Terceiro, é um lugar de permanente sofrimento – quando Jesus diz que “o fogo nunca se apaga e o verme não morre”, aponta para uma realidade permanente. O que mantém o fogo aceso é a existência de material para combustão. No inferno não faltará material para combustão. Claro que, ao usar a referência de “fogo” pode-se muito mais falar do sofrimento sob o juízo divino do que sob “chamas literais”, de acordo com alguns comentaristas. Diz Anthony Hoekema: “O objetivo das figuras, porém, é que o tormento e angústia internos, simbolizados pelo verme, nunca terão fim e os sofrimentos exteriores simbolizados pelo fogo nunca cessarão. Se as figuras utilizadas nesta passagem não significam sofrimento sem fim, então elas não significarão coisa alguma”.
Por diversas vezes, Jesus usa figuras semelhantes para falar do sofrimento eterno. Por exemplo, Jesus disse que é um lugar descrito como uma “fornalha de fogo” onde “haverá choro e ranger de dentes” (Mt 13.50; ); Jesus disse que os justos irão para vida eterna, mas os ímpios para “o tormento eterno” (Mt 25.46). Ora, não faria sentido pensar que os justos estarão junto a Deus por toda eternidade e, no mesmo texto, Jesus pensar que o tormento é temporário. O inferno também é chamado de “trevas” (Mt 25.30; 22.13). Em outra designação é que os que são destinados ao inferno “ira e indignação [...] tribulação e angústia”(Rm 2. 6-9). De acordo com João, os ímpios serão “atormentados de dia e de noite pelos séculos dos séculos” (Ap 20.10). De acordo com Apocalipse 19.20, a Besta e o Falso Profeta foram lançados vivos no “lago de fogo e enxofre”. Porém, depois de Mil Anos eles ainda estavam lá, onde receberão a companhia do diabo (Cf. Ap 20.10). 

Quarto, o inferno é o lugar da Ira de Deus – quando Jesus diz “fogo que nunca se apaga”, isso nos fala não apenas do sofrimento, mas também da ira de Deus. Em mais de 600 lugares, a Bíblia fala sobre a ira de Deus. No caso específico do inferno, o fogo não é purificador, mas o “fogo da ira de Deus”. Alguns há que costumam colocar os atributos de Deus uns contra os outros, como se, porventura, algum atributo de Deus prevalecesse sobre os demais. Porém, a justiça de Deus, bem como seu amor e soberania, exigem a existência do inferno4 . Porque Deus é justo, ele não pode contemplar os pecados (Hb 1.13). Porque Deus é amor e amou ao mundo, aqueles que rejeitam esse grande amor rejeitam tão grande salvação (Hb 2.3).  Porque Deus é soberano, o mal precisa ser derrotado. Deus vencerá no final (Ap 20). O inferno, portanto, é o efeito da Ira de Deus. Conclui-se daí que o inferno não é governado por Satanás, mas Deus Reina também no inferno. Como disse William Hendriksen:5 “o inferno é inferno porque Deus está lá, Deus em toda a sua ira (Hb 12.29; Ap 6.16). O céu é céu porque Deus está lá, Deus em todo o seu amor. É desta presença de amor que o ímpio é banido para sempre.”

Quinto, Jesus ensina que é possível livrar-se de ir para o inferno – ao dizer “melhor é isso do que aquilo”, Jesus apresenta uma maneira de ser lançado no inferno. Diante do contexto maior (8.34ss), fica claro que os “seguidores de Jesus Cristo”, porque renunciaram aos seus pecados, negaram-se a si mesmo, tomaram a sua cruz e, até mesmo, perderam a sua vida “por amor de mim [Jesus Cristo] e do Evangelho” (Cf. 8.35). Assim, ao fazer a comparação entre o que é “melhor”, estamos diante do teste do Senhor para saber quem é seu discípulo ou não. Aqueles que não renunciam seus pecados aqui terão de sofrer com eles longe da Glória de Deus, em eterno sofrimento. Jesus apresentou o preço a se evitar.

Outra coisa, por duas vezes Jesus diz “entrares na vida” (v. 43, 45) e uma vez diz “entrares o reino de Deus”. Ficamos sabendo pelo interlocutor João que ninguém pode ver o reino de Deus se não nascer de novo (Jo 3.7). Por “novo nascimento” o cristianismo ensina ser “a alegria sincera em Deus, por Cristo (1) , e o forte desejo de viver conforme a vontade de Deus em todas as boas obras (2). (Is 57:15; Rm 5:1,2; Rm 14:17. (2) Rm 6:10,11; Gl 2:19,20)” (Catecismo de Heidelberg, p. 90).

O próprio Jesus reconheceu que o inferno não foi preparado primeiramente para o homem, mas para o “Diabo e seus Anjos” (Mt 25.41). E para livrar o homem de ir para o inferno, “Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”(Jo 3.16). Porém, porque o homem permanece indiferente a Jesus Cristo, ou seja, não crê no Filho, então “não verá a vida, mas a ira de Deus sobre ele permanece” (Jo 3.36). 
 
E, ENTÃO?
Existem temas nas Escrituras que são dolorosos. Falar sobre o inferno é um desses temas. Porém, a doutrina sobre o inferno é parte da Teologia Bíblica, e como prova disso, o Senhor Jesus e seus apóstolos a ensinaram repetidamente.  Como disse o Bispo John Ryle, “não há misericórdia alguma em ocultar dos homens o assunto a respeito do inferno. Por mais temível e tremendo que seja o inferno, ele deve ser uma realidade fortemente inculcada sobre todos, como uma das grandiosas verdades do cristianismo. O apóstolo João, no livro de Apocalipse, com frequência o descreveu. Os servos de Deus, hoje, não devem sentir-se envergonhados de confessar a sua crença nesse assunto. Se não houvesse ilimitada misericórdia em Cristo, para todos aqueles que nele creem, bem poderíamos nos esquivar desse temível tópico” (1994, p. 119).

Não pensem que é fácil falar sobre os milhões que passarão a eternidade no lago de fogo. Alguns amigos até acham minha posição meio dantesca e, por isso, medieval. No entanto, minha tarefa como ministro do Evangelho é falar a verdade, seguir os passos do Mestre, mesmo que, ao expor essa doutrina, alguns se sintam incomodados com ela. Muitos estão a passos largos no caminho do inferno, caminhando sobre um grande abismo que não se abre para engolir alguns dos tais, tal como engoliu vivo a Datã, Coré e Abirão (Nm 16. 30-33) por causa das muitas misericórdias de Deus, desse mesmo Deus que eles provocam a sua ira. 

Muitos ainda amam os seus pecados e, de forma enganosa, acreditam que podem desfrutar da eternidade com Deus sem seus pecados serem perdoados. Qual não será a surpresa de muitos ao perceberem que estão debaixo da Ira de Deus, simplesmente porque relutam em amar a Deus. Não é amor aos amigos e inimigos se não se anunciar o perigo que estão correndo. Talvez seja preciso que alguns precisem sentir o fogo do abismo queimando sob seus pés. 

Dirijo-me àqueles que ainda não despertaram para conversão e para o perigo que estão correndo. 

O inferno é para todos que não estão em Cristo. Hão de suportar o peso da ira de Deus. Foi João quem disse que Deus mesmo pelejará contra os que não se converteram ou que pensam que são convertidos. O Senhor Disse: “Eu sozinho pisei no lagar, e dos povos ninguém houve comigo; e os pisei na minha ira, e os esmaguei no meu furor; e o seu sangue salpicou as minhas vestes, e manchei toda a minha vestidura” (Is 63.3). Outra vez João, o Discípulo do Amor, viu a cena terrível: “E da sua boca saía uma aguda espada, para ferir com ela as nações; e ele as regerá com vara de ferro; e ele mesmo é o que pisa o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-Poderoso”(Ap 19.15).

Não há nada entre eles e o inferno a não ser a misericórdia de Deus. Mas lembrem-se: Ele está irado e quem pode lhe impedir de agir contra os seus pecados? Alguns supõem equivocadamente que está tudo bem com eles porque têm saúde, prosperidade, alegria, vão à igreja e desfrutam das bênçãos comuns de Deus. Mas isso não é garantia de que serão livres do inferno. A única garantia encontra-se no Cordeiro de Deus, que sofreu a Ira de Deus pelos homens. Se isso não é amor de Deus, em entregar o seu Filho por pecadores, não sabemos, então, o que é amor.

E estou a par de que essa mensagem não é popular. Sei também que alguns encontrarão pessoas que procurarão lhes dissuadir da realidade do inferno. Mas, “por que a cruz e todo sofrimento [de Jesus ], a não ser que haja o inferno? A morte de Cristo perde o seu significado eterno a não ser que haja uma separação de Deus da qual as pessoas precisam ser salvas” 6.  Não pense, também, que o inferno é apenas uma ameaça, e não uma realidade. Se assim o fosse, Deus seria mentiroso. Deus não usa mentiras para atrair aos homens. 

Como disse, essa não é uma mensagem popular. Mas ela é verdadeira porque a Bíblia é verdadeira, porque Jesus Cristo é verdadeiro e não pode mentir. Seja Deus verdadeiro e os homens mentirosos (Rm 3.3). Meus amigos, a visão que temos de nossos pecados não é um mínimo daquilo que Deus vê em nós. Certa vez, o pregador Jonathan Edwards, amparado numa visão estritamente bíblica, nos deu um quadro dos pecados dos homens: 
Vossas iniquidades vos fazem pesados como chumbo, pendentes para baixo, pressionados em direção ao inferno pelo próprio peso, e se Deus permitisse que caíssem vocês afundariam imediatamente, desceriam com a maior rapidez, e mergulhariam nesse abismo sem fundo. Vossa saúde, vossos cuidados e prudência, vossos melhores planos, toda a vossa retidão, de nada valeriam para sustentar-vos e conservar-vos fora do inferno. Seria como tentar segurar uma avalancha de pedras com uma teia de aranha. Se não fosse a misericórdia de Deus, a terra não suportaria vocês por um só momento, pois são uma carga para ela. A natureza geme por causa de vocês. A criação foi obrigada a se sujeitar à escravidão, involuntariamente, por causa da vossa corrupção. Não é com prazer que o sol brilha sobre vocês, para que sua luz vos alumie para pecarem e servirem a satanás. A terra não produz de bom grado os seus frutos para satisfazer vossa luxuria. Nem está disposta a servir de palco à exibição de vossas iniqüidades. Não é voluntariamente que o ar alimenta vossos corpos, mantendo viva a chama dos vossos corpos, enquanto vocês gastam a vida servindo os inimigos de Deus. As coisas criadas por Deus são boas e foram feitas para o homem, por meio delas, servisse ao Senhor. Não é com prazer que prestam serviço a outros propósitos, e gemem quando são ultrajadas ao servirem objetivos tão contrários à sua finalidade e natureza. E a própria terra vomitaria vocês se não fosse a mão soberana dAquele a quem vocês tanto tem ofendido. Eis aí as nuvens negras da ira de Deus pairando agora sobre vossas cabeças carregadas por uma tempestade ameaçadora, cheia de trovões. Não fosse a mão restringidora do Senhor, elas arrebentariam imediatamente sobre vocês. A misericórdia soberana de Deus, por enquanto, refreia esse vento impetuoso, do contrário ele sobreviria com fúria, vossa destruição ocorreria repentinamente, e vocês seriam como palha dispersada pelo vento"

Portanto, Deus está exortando-lhes, em nome de Cristo, por essa palavra rogando-lhes que se reconciliem com Deus (2Co 5.11-20). Não há muitas opções. É estar em Cristo ou longe dele. É céu ou inferno. Não brinque de cristão, não brinque de crente, não brinque de religiosos ou mesmo ateu. O Senhor Jesus é o seu Deus e Salvador? De fato, você já o recebeu e, portanto, pode ser contado entre os Eleitos do Senhor? O machado já está posto à raiz e “toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo” (Mt 7.19), disse o Senhor Jesus. Onde estão os frutos? O Senhor ainda disse: “Se alguém não estiver em mim, será lançado fora, como a vara, e secará; e os colhem e lançam no fogo, e ardem” (Jo 15. 6). Se isso não for uma realidade em sua vida, então a Ira de Deus permanece sobre você e você será lançado no inferno, no lugar que foi criado para o diabo e seus anjos. Rejeitando a presença de Deus, você estará em companhia do diabo e seus anjos. Fuja para os braços misericordiosos do Senhor Jesus enquanto é tempo!

Por: http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=232

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